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Já passaram pela experência de ter que sair a rua para vender e ganhar algum sustento para a família? Eu sim, mas não é a minha história que vou contar mas a de uma pessoa amiga que me roubou, simultaneamente, o riso e uma lágrima contida.
Menino tens que ir vender esses pasteis que estou a fazer, diz a mãe para o filho. Imaginem, sair a rua para vender pela primeira vez quando se é criança, para além da falta de experiência, a timidez, há ainda a vergonha de se apresentar à frente dos amigos e das pessoas conhecidas nessa tarefa. Entenda-se que estamos a falar de um miúdo e dos pensamentos deste no contexto de uma sociedade muito particular como a cabo-verdiana.
E assim foi, o menino desceu a rua com o tabuleiro com os pasteis escondidos debaixo do braço sem coragem de gritar "Ô li pastel!". Desceu a rua, atravessou o bairro e encontou um amigo com quem partilhou 8 pasteis a troco de 20 escudos que tinha no bolso. Os primeiros já tinham sido despachados mas ainda faltavam tantos!
Continuou a descer até chegar na praia onde estavam os banhistas famintos e com vontade de um capricho salgado e morninho mas continuava a faltar a coragem ao menino para gritar "Ô li pastel!".
Encontrou um amigo, pessoa mais velha, e perguntou-lhe o que fazia ali, porque é que não ia tomar um banho de mar. "N tem k vendé ess pastel", disse o menino. O amigo vendo o constrangimento do menino e percebendo da sua pouca experiência comprou-lhe todos os pasteís que restavam e distibui-os pelos meninos que estavam na praia. Deu o dinheiro ao menino e este voltou feliz para casa.