Há três coisas que devem ser evitadas na vida: inimigos, ódio e bondade.

Procuro evitar os três, mas ainda não existe a fórmula da perfeição. 

Por isso vagueio por aí, entre o bem e o mal.

 

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06 de Novembro de 2008

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Com o sucesso da primeira venda a mãe resolve dar seguimento a mesma e no segundo dia prepara um outro tabuleiro recheado de pasteís para o menino ir vender. Volta o menino à rua na mesma condição do dia anterior. Tímido, perdido, envergonhado. Segue directamente para a praia com vontade de encontrar o amigo que lhe havia comprado os pasteis no outro dia.

 

Infelizmente, não encontrou o amigo. As pessoas famintas estavam na praia e mais uma vez faltava a coragem de gritar "Ô li pastel!". Encontrou outro rapazito que vendia bananas na praia, mas este já com experiência e "litros" de descaramento na reserva. "Oiá bô te podê bá vendem ess pastel lá debôs? Un te cuidob dess venda".

 

O rapazito acedeu e foi vender os pasteis com a maior naturalidade, mas como "azar ê d'zarente" o rapaz foi chamado e veio a correr, tropeçou e deixou cair os pasteis na areia.

 

Desesperado apanharam os petiscos, sopraram, sacudiram, limparam, mas já não havia remédio, estavam perdidos. "Un ca ta bá pa casa" disse o menino a medida que formavam duas lágrimas, uma em cada canto do olho.

 

"Un ca tá bá pa casa", repetia inconsolavelmente. Tinha perdido os pasteis, o dinheiro resultante da venda e quem viveu naqueles tempos já sabe o que o aguardava em casa, "pancada".

 

"Un ca tá bá pa casa", repetia. Apareceu uma senhora amiga da família e perguntou-lhe o que se passava. "Un ca tá bá pa casa", disse o menino. A senhora limpou-lhe a lágrima que irrompia e pediu-lhe para contar o que se passava.

 

Depois de relatar o sucedido a senhora deu dinheiro ao menino e este voltou feliz para casa e entregou o dinheiro à mãe. "Porké bô trazé tud ess dnher?", questiona a mãe. O dinheiro vinha a dobrar e a mãe tinha qur saber de onde provinha. O menino contou e depois de confirmar com a senhora voltou para casa, porque as mãe de Cabo-Verde amam seus filhos e no extemo do amor tem de saber tudo o se passa (passado, presente e, quando podem, até adivinham o futuro).

 

Tempos difíceis, ma temp sabin na d'vera

vôo de Hildmel às 17:17

05 de Novembro de 2008

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Já passaram pela experência de ter que sair a rua para vender e ganhar algum sustento para a família? Eu sim, mas não é a minha história que vou contar mas a de uma pessoa amiga que me roubou, simultaneamente, o riso e uma lágrima contida.

 

Menino tens que ir vender esses pasteis que estou a fazer, diz a mãe para o filho. Imaginem, sair a rua para vender pela primeira vez quando se é criança, para além da falta de experiência, a timidez, há ainda a vergonha de se apresentar à frente dos amigos e das pessoas conhecidas nessa tarefa. Entenda-se que estamos a falar de um miúdo e dos pensamentos deste no contexto de uma sociedade muito particular como a cabo-verdiana.

 

E assim foi, o menino desceu a rua com o tabuleiro com os pasteis escondidos debaixo do braço sem coragem de gritar "Ô li pastel!". Desceu a rua, atravessou o bairro e encontou um amigo com quem partilhou 8 pasteis a troco de 20 escudos que tinha no bolso. Os primeiros já tinham sido despachados mas ainda faltavam tantos!

 

Continuou a descer até chegar na praia onde estavam os banhistas famintos e com vontade de um capricho salgado e morninho mas continuava a faltar a coragem ao menino para gritar "Ô li pastel!".

 

Encontrou um amigo, pessoa mais velha, e perguntou-lhe o que fazia ali, porque é que não ia tomar um banho de mar. "N tem k vendé ess pastel", disse o menino. O amigo vendo o constrangimento do menino e percebendo da sua pouca experiência comprou-lhe todos os pasteís que restavam e distibui-os pelos meninos que estavam na praia. Deu o dinheiro ao menino e este voltou feliz para casa.

vôo de Hildmel às 14:24

Petit Papillon

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